A pedra-sabão teve um papel essencial no Barroco Mineiro, tanto artisticamente quanto economicamente. Seu uso ganhou destaque pelas mãos de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), que a transformou em esculturas de rara expressividade, elevando o material a um símbolo da arte colonial brasileira.

Entre suas obras mais icônicas está a Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, considerada uma obra-prima do período. “Esse patrimônio não é um fenômeno europeu, mas resultado de conhecimentos que circularam pelo Brasil”, explica o historiador Eduardo França Paiva, da UFMG.

A Casa Brasileira valoriza essa herança artística e se inspira no Barroco Mineiro para reinterpretar a tradição com inovação e autenticidade.

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Quem foi Aleijadinho?

Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho (1738-1814), foi um dos maiores expoentes das artes plásticas no Brasil colonial. Escultor, entalhador e arquiteto, destacou-se pelo refinamento técnico e pela expressividade singular de suas obras, profundamente ligadas à religiosidade do período.

Mesmo acometido por uma doença degenerativa que comprometeu seus movimentos, continuou produzindo, adaptando suas ferramentas às mãos debilitadas. Seu talento se manifestou em obras grandiosas, como os Doze Profetas de Congonhas e os retábulos e esculturas de igrejas, incluindo São Francisco de Assis, em Ouro Preto.

Além da pedra-sabão, seu material mais famoso, também trabalhou com madeira, criando altares, retábulos e imagens sacras de grande impacto visual. Seu legado transcende séculos, sendo reconhecido como um dos maiores nomes da arte brasileira.

👉 A seguir, exploraremos suas principais obras em pedra-sabão e seu impacto na arte sacra colonial.

Conheça as obras Os Doze Profetas de Aleijadinho

Esculpidos entre 1800 e 1805, os Doze Profetas do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (MG), representam um dos maiores marcos do Barroco Mineiro e da obra de Aleijadinho. Talhados em pedra-sabão, esses profetas se destacam pela expressividade intensa, postura dramática e riqueza de detalhes, sendo um testemunho da genialidade do artista.

A disposição das estátuas no adro da igreja segue uma lógica simbólica e arquitetônica precisa, conferindo ao conjunto um impacto visual imponente. Apesar de algumas características anatômicas estilizadas e intervenções de auxiliares do ateliê, cada profeta carrega a inconfundível assinatura de Aleijadinho, principalmente na expressividade dos rostos.

Conheça as particularidades de cada profeta:

Profeta Abdias

Representado como um jovem imberbe, Abdias se destaca por sua postura esbelta e elegante. Seu manto e túnica apresentam um arranjo sofisticado de pregas, que criam um jogo de luz e sombra característico das composições barrocas. Sua posição na extremidade do adro confere à escultura um papel visualmente estratégico.

Profeta Amós

Diferente dos demais, Amós possui uma aparência mais rústica, refletindo sua origem como pastor. Seu rosto largo e expressão serena contrastam com a dramaticidade de outros profetas. Sua vestimenta, feita de pele de carneiro, remete à sua simplicidade e conexão com a terra. A escultura revela a sensibilidade de Aleijadinho ao captar a essência do personagem.

Profeta Baruc

Embora não faça parte da tradicional lista dos profetas do Antigo Testamento, Baruc foi incluído no conjunto devido à sua relevância bíblica. Representado como um jovem imberbe, veste túnica curta e um manto, além de um turbante ornamentado semelhante ao de Jeremias. Apesar de apresentar algumas proporções atarracadas, sua expressão facial transmite seriedade e inspiração, características marcantes de sua missão como escriba.

Profeta Daniel

Daniel é representado como um jovem imberbe, de olhar altivo e distante. Sua coroa de louros simboliza a vitória sobre os leões, um dos episódios mais conhecidos de sua história. A estátua, a maior de todo o conjunto, exibe um trabalho refinado, sendo uma das mais bem executadas por Aleijadinho sem interferências de auxiliares.

Profeta Ezequiel

Conhecido como o "profeta do exílio", Ezequiel aparece com longos cabelos e uma barba dividida em dois rolos frisados, um estilo comum no período bizantino. Veste uma túnica longa e um manto ornamentado, destacando-se pela riqueza de detalhes. O pergaminho em suas mãos faz referência à sua visão profética, que inclui criaturas aladas e a presença divina. Sua escultura carrega um forte senso de movimento, com uma expressividade que evidencia a marca pessoal de Aleijadinho.

Profeta Habacuc

Habacuc ocupa uma posição oposta a Abdias, criando um equilíbrio visual no adro. Ele veste uma túnica longa com gola ornamentada e traz um turbante elaborado, o mais detalhado de todo o conjunto. Sua escultura recebeu atenção especial de Aleijadinho, destacando-se pela complexidade dos ornamentos e pela expressividade facial.

Profeta Isaías

Posicionado na entrada da escadaria, Isaías é um dos profetas mais imponentes do conjunto. Representado como um ancião de barbas longas e cabelos fartos, veste uma túnica curta e um manto amplo. Com uma das mãos segura um pergaminho e, com a outra, faz um gesto que sugere ensinamento ou revelação. A escultura apresenta desproporções anatômicas, mas o rosto transmite uma expressão iluminada, reforçando seu papel como um dos grandes profetas do Antigo Testamento.

Profeta Jeremias

Ao lado de Isaías, Jeremias é retratado como um homem de meia-idade, com barba curta e bigodes longos. Seu turbante ornamentado e sua vestimenta detalhada refletem a riqueza estilística da escultura. Segura um pergaminho e uma pena, indicando sua conexão com a escrita profética. Apesar de imperfeições anatômicas, o olhar expressivo e a postura firme transmitem a força e a profundidade de sua mensagem.

Profeta Joel

Localizado próximo à entrada do adro, Joel compartilha traços com outros profetas, como Jeremias e Oséias, sendo representado com barba e vestimentas sofisticadas. Sua escultura transmite vigor e força expressiva, sendo considerada uma das mais bem executadas do conjunto.

Profeta Jonas

A escultura de Jonas é uma das mais expressivas do conjunto. Sua boca entreaberta e olhar voltado para o alto sugerem uma súplica ou momento de revelação. Sua vestimenta segue o padrão de outros profetas, mas o detalhe da silhueta de um peixe na parte posterior da estátua faz referência direta à sua famosa história bíblica.

Profeta Naum

A figura de Naum transmite fragilidade e introspecção. Com longas barbas e semblante cansado, sua postura vacilante reflete a seriedade de suas profecias. Alguns detalhes da escultura sugerem interferências do ateliê, mas a força expressiva do rosto mantém a identidade artística de Aleijadinho.

Profeta Oséias

Oséias, um dos profetas menores mais importantes, tem um semblante firme e sereno. Sua vestimenta é composta por um casaco curto e um manto preso à cintura. A posição da pena em sua mão sugere um ato de escrita, reforçando sua identidade como mensageiro divino. Sua escultura é um exemplo da habilidade de Aleijadinho em criar composições equilibradas e harmoniosas.

O Legado dos Profetas de Aleijadinho

O conjunto dos Doze Profetas não é apenas uma manifestação da genialidade de Aleijadinho, mas também um símbolo do sincretismo cultural do Brasil colonial. A fusão de influências europeias, indígenas e africanas presente na obra do mestre mineiro reflete a riqueza e a diversidade da identidade brasileira.

Em um período em que a arte era muitas vezes vista como um ofício braçal, Aleijadinho elevou o trabalho escultórico ao status de arte sacra, rompendo barreiras sociais e culturais. Sua capacidade de transformar pedra em expressão, movimento e emoção ressoa até hoje, mantendo seu legado vivo e inspirador.

A Casa Brasileira se conecta a esse mesmo propósito: valorizar a cultura nacional, reinterpretar a tradição com autenticidade e promover a arte como um reflexo da identidade brasileira. 

Essas esculturas seguem impressionando visitantes e estudiosos até hoje, reafirmando o impacto duradouro da obra de Aleijadinho na história da arte brasileira.

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Fotos: Enciclopédia Itaú Cultural